Saudações à 10ª Conferência Nacional da Interjovem.
Intervenção do SINTAF na conferencia da Interjovem
Venho-vos falar hoje da realidade dos trabalhadores do setor bancário, enquanto trabalhador do BNP Paribas e sindicalizado no SINTAF.
Parece que todos os dias ouvimos falar dos lucros da banca. Aliás em 2024 vimos a banca atingir lucros históricos em Portugal. Só até Setembro, os lucros agregados dos cinco maiores bancos a operar em Portugal foram de 3.900 milhões de euros (14 milhões por dia!),
prevendo-se que estes valores tenham chegado aos 5.000 milhões de euros no final do ano.
Cada ano que passa vão-se registrando constantemente cada vez mais altos resultados positivos. Sim, resultados positivos, que é o que eles chamam quando nos apresentam estes valores nos nossos locais de trabalho. Sem nunca se denominarem por lucros, vão-nos apresentando estes resultados financeiros que, todos juntos obtivemos. Dizem eles, todos juntos, nós, os trabalhadores, obtivemos os lucros. Porém vão omitindo que só eles têm direito a usufruí-los. E enquanto os senhores CEOs vão-se jubilando com estes valores, a nós vai nos custando na pele.
É que, com valores tão elevados, seria de pensar que os aumentos salariais lhes seriam no mínimo proporcionais. Afinal, se vão pregando a ideia de que todos juntos obtivemos os resultados positivos, então todos juntos haveríamos de receber uma fatia do bolo, correto?
Pois, para nossa surpresa, isto não se verifica. Dizem-nos a nós que é impossível que salários aumentem. Que estamos a passar por uma pandemia, que estamos em tempos de guerra, ou por infinitas e infindáveis crises económicas… há sempre um argumento para tapar o sol com a peneira. E vêm sempre com aquela conversa do costume, de que estamos todos no mesmo barco, que é necessário um esforço de equipa e que, portanto, é preciso fazer contenções, enfim, é preciso paciência e compreensão.
Dizem eles, do cimo dos seus palácios de marfim, com o papo cheio de prémios e bónus chorudos, enquanto distribuem dividendos pornográficos para fora do país, esquecendo-se -leia-se, omitindo - de dizer o mais essencial: não tem de ser assim. Vai se repetindo a ladainha à espera que os nossos ouvidos entranhem o que, naturalmente, se estranha. E estranha-se bem. Estranha-se porque sabemos que é possível justo e necessário o aumento dos salários e a melhoria das condições laborais - afinal somos nós que produzimos a riqueza e isso eles não conseguem esconder.
Como em tantos outros espaços, No BNP Paribas o nosso trabalho não se afigura fácil. Com avanços e recuos, tem se procurado alargar a atividade do nosso coletivo, quer na quantidade de sindicalizados, quer na sua atividade em concreto: no esclarecimento, nas distribuições, nos baixos assinados e na mobilização para a luta. Neste sentido temos desenvolvido trabalho. Há dois anos atrás foi realizado um abaixo-assinado (que chegou a cerca de 1800 assinaturas,), resultado de um plenário bastante participado, especialmente tendo em conta que foi o primeiro plenário desenvolvido no BNP Paribas por organizações sindicais - cujas reivindicações deram corpo a uma proposta de acordo-empresa proposto à administração para negociação sendo posteriormente recusado.
Nos últimos anos, o BNP Paribas, o maior banco francês, passou a ter o seu centro de operações em Portugal,. De facto, faz mais Sol cá do que em França e o nosso Pastel de Nata é melhor que o Croissant. Contudo, nem uma coisa nem outra são as razões que levaram a esta mudança. Como seria de esperar, a verdadeira razão reside nos baixos salários de Portugal e, por conseguinte, na maior taxa de lucro em ter operações em Portugal. Os nossos salários estão longe dos valores auferidos em França, mesmo que trabalhemos como se estivéssemos lá.
E os Senhores do BNP Paribas sabem disso. Não só sabem, como atuam deliberadamente para que essas condições se perpetuem, como o confirmaram aquando da negociação por um Acordo-Empresa ao afirmarem categoricamente que se nos aumentassem os salários, então
mais valia levar as operações para onde os salários fossem ‘mais competitivos’, como eles gostam de dizer.
Mas, Camaradas, nem tudo é mau. Às terças e às quintas-feiras, o BNP fornece fruta em todos os pisos, porque se preocupa com o bem-estar dos seus trabalhadores. Aliás preocupam-se tanto com a saúde que têm até uma plataforma, a famosa benefit, que traz benefícios em
serviços como de saúde e bem-estar, no valor de 50 euros para usarmos à nossa vontade em entidades parceiras do banco. Veja-se, tamanha é a generosidade. Tanta generosidade que rapidamente vê o seu fim quando lhes é pedido que coloquem esses 50 euros no salário. Aí já é traçado o limite, não vão os trabalhadores ser donos da gestão do seu próprio dinheiro, ou pior, ver o seu salário aumentado. Aí é que o bem-estar dos trabalhadores seria ameaçado.
Mas talvez estejamos a ser demasiado duros para com estes Senhores que tanto se preocupam connosco. Afinal, cada vez mais são as sessões que abordam a saúde mental, como por exemplo a questão do burnout - este novo conceito que foi inventado para dar um
nome mais bonito às consequências da exploração. É pena é que por mais sessões que abordam a saúde mental, nem uma palavra sobre a redução dos horários de trabalho semanal.
Parece que quanto mais se dão conta das consequências da exploração que nos impõem, mais horas extras pedem para fazer, como se as 40 horas semanais não fossem suficientes para deteriorar a nossa saúde mental.
Camaradas, o Banco está de tal forma preocupado connosco, que até promove um sindicato que, dizem eles, defende os nossos direitos, o tal Mais Sindicato. Felizmente temos este sindicato que nos defende. Um Sindicato que é financiado pelo Capital. Um Sindicato que nos é
impingido pelo próprio patronato desde o nosso recrutamento. Um sindicato que tentam fazer parecer que a este precisamos de nos associar de modo a beneficiar de cuidados de saúde no SAMS - um direito que na realidade é de todo o bancário. Sim, Camaradas, um sindicato que
se dispõe a assinar acordos com o Patronato onde se contemplam aumentos salariais mais baixos até que os propostos pelo patrão, este sindicato que é publicitado em todo lado no BNP, mas que não aparece numa única luta; Claro é que não poderia ser este um sindicato de
Classe, claro que este não poderia ser o SINTAF. Mas a preocupação do BNP Paribas não fica por aqui. O banco que tem o como slogan “the
bank for a changing world” está muito preocupado com a sua responsabilidade social e até permite um dia por ano para fazermos voluntariado. Pois bem, que bom. Se o BNP está tão comprometido em mudar o mundo, que comece por mudar as condições laborais dos seus trabalhadores. Que se sente à mesa de negociações com o SinTAF para um acordo-empresa assente nas premissas do acordo coletivo de trabalho vertical da banca, histórico marco conquistado no pós-revolução pelos bancários organizados no seu sindicato de classe. Um
acordo com tabelas salariais justas que visam a progressão automática na carreira; um acordo que contemple diuturnidades valorizando a experiência de quem tudo produz; um acordo que contemple as 35h de trabalho semanal entre outras condições pelas quais lutamos!
Camaradas, o descontentamento está aí e é notório. No contacto com os trabalhadores, são incontáveis os testemunhos de trabalhadores que se associam a outros sindicatos a título dos benefícios no campo da saúde, mas que nos reconhecem a nós como o sindicato justo, com as posições que interessam a quem trabalha. No último plenário dinamizado pela comissão de trabalhadores várias foram as vozes a pedir melhores condições, mais presença do sindicato que defende os trabalhadores, e mais ações, colocando-se à discussão a possibilidade de
convocar uma greve. É imperativo chegar a estes trabalhadores, transformar este descontentamento em luta e trazê-lo também para a rua.
Para isto, importa que o SINTAF aumente ainda mais a sua presença nos locais de trabalho e no BNP. Que os trabalhadores não só se sintam protegidos pelo sindicato, mas que se revejam no seu projeto e na sua atividade. Aproximar o SinTAF dos trabalhadores e trazê-los à luta. Defender e organizar os trabalhadores como faremos com a distribuições do nosso boletim e no nosso plenário convocado já para dia 5 de Fevereiro tendo em vista o desenvolvimento de uma carta reivindicativa, e colocar pressão sobre a administração para que consigamos o nosso acordo-empresa!
Porque somos trabalhadores e não patrões, porque somos bancários e não banqueiros. Porque somos nós que sentimos as dificuldades. Porque somos nós que sentimos a necessidade das nossas reivindicações. Porque somos nós que sentimos a justeza da luta.
Viva a justa luta dos trabalhadores.
Viva a Interjovem e a CGTP.