(Imagem CGTP-Intersindical Nacional)
A CGTP-IN promoveu a Sessão Pública "50 anos das nacionalizações contra as privatizações! - O sector público ao serviço do País!", no Auditório do Sindicato de Trabalhadores das Empresas do grupo Caixa Geral de Depósitos (STEC). Transcreve-se a intervenção do coordenador do SINTAF Nuno Matos.
Olá boa tarde a todos,
Actualmente sou trabalhador do Novo Banco, mas o meu primeiro contacto com o setor financeiro foi em 1995 quando comecei a trabalhar numa SFAC - Sociedade Financeira para Aquisições a Crédito. Comecei a trabalhar com recibos verdes. Em 1995 já estava a banca privatizada, estas SFACs que começaram a nascer por todo lado era o início da desregulação do setor, era mais fácil para os bancos fazerem créditos através destas SFACs, onde os trabalhadores não tinham contratação colectiva, nesta altura os sindicatos da banca eram da UGT e não estavam interessados em confrontar os patrões que já tinham muita influência junto do poder político e poder judicial. Só em Junho de 2005 é que aparece o SINTAF ligado à CGTP. É fruto de uma necessidade de intervir num setor muito importante para o País que estava, e está, sem controle. Eu já entrei para um setor onde o patrão punha e dispunha, onde se faziam atropelos aos direitos laborais, onde já havia precariedade com recibos verdes e trabalhadores que eram contratados por empresas de trabalho temporário.
A Banca sempre foi um setor estratégico para qualquer País, e um setor rentável. A Banca nacionalizada sempre contribuiu com os seus lucros para o orçamento de estado, sem esses contributos o estado foi forçado a aumentar os impostos para pagar as suas contas (ordenados de policias, médicos, enfermeiros, os trabalhadores camarários e os do estado central, forças armadas, fazer arruamentos e obras necessárias no País, justiça nas suas diversas vertentes a educação). Estes impostos caíram em cima da classe trabalhadora. Por outro lado a Banca privada preocupa-se em ter
lucro, não estão interessados no desenvolvimento do País, ou em apoiar as famílias e as empresas que tanto são precisas para o nosso desenvolvimento, porque só havendo trabalho e trabalhadores é que a economia avança e gera mais riqueza. Actualmente com a banca privada maioritariamente nas mãos de grupos transnacionais (BCP, Santander-Totta, Novo Banco, BPI), a riqueza gerada em portugal por trabalhadores Portugueses vai para fora do País, a única excepção são a CGD, o Montepio, a Caixa de Crédito Agrícola. Ao contrário da banca nacionalizada, a banca privada já necessitou da ajuda dos contribuintes Portugueses em muitos milhões de euros. Mas não recebemos de volta a justa gratidão da banca por os termos ajudado.
Em 2024 os principais bancos a operar no mercado Português tiveram mais de 5 mil milhões de euros de lucro, isto dá 14 milhões por dia. Um escândalo pornográfico neste país com tantas necessidades. Estes lucros foram conseguidos principalmente através de taxas cobradas aos clientes por serviços que a banca deixou de prestar com a desculpa da digitalização, encerrou balcões e passou serviços para o homebanking, MB way ou para as APPs. Mesmo sendo o cliente a trabalhar executando as operações, paga uma taxa ao banco. À pouco tempo tivemos a apresentação dos resultados de 2024, onde foi reconhecido que as margens diminuíram, mas as taxas cobradas subiram. Outro fator são as horas extras trabalhadas e não pagas.
Em contrapartida os trabalhadores bancários vêm a perder poder de compra há mais de 20 anos, actualmente a banca não é um setor atrativo para trabalhar, devido aos baixos salários e exigências muito grandes. A banca quer trabalhadores com formação superior, obriga a diversas formações de prevenção contra fraudes e riscos, mas paga salários baixos, nas tabelas salariais publicadas em BTE, o salário mínimo Nacional já ultrapassou o nível 4 estando quase no 5, quando tive contacto com a realidade da banca o nível 1 da tabela estava bem acima do SMN, este facto é bem demonstrativo da estagnação do setor, e o porquê de actualmente os jovens não quererem trabalhar na banca.
A banca tem promovido despedimentos ou rescisões por mútuo acordo, dizem que é para reduzir custos, também não substituem um trabalhador que passe à situação de reformado, perdendo-se destas duas formas, conhecimento. Quem fica no posto de trabalho fica com mais trabalho (mesmo ordenado) e mais pressão para atingir objectivos, mais assédio, o que leva muitos trabalhadores a fazerem horas extras não as declarando. Mas será que existe uma redução de custos? Dizem que o número de trabalhadores bancários diminuiu, mas será que o número de trabalhadores nos bancos diminuiu? A resposta é “nim”, porque os trabalhadores que saíram foram substituídos por trabalhadores contratados em outsourcing, o que aumenta a precariedade mas também a despesa, os valores diminuíram na rubrica de salários mas passaram para outra rubrica, isto porque as empresas de outsourcing, são pagas e têm de ter lucro no fim de pagarem as suas contas, o que acontece, é que temos cada vez menos trabalhadores abrangidos por contratos colectivos, com regulação de direitos e deveres para ambas as partes, este é o ponto principal, a banca quer só ter direitos sem deveres nenhuns, ou seja a nova forma de escravatura, onde os trabalhadores continuam com uma mão cheia de nada e a outra de coisa nenhuma.
A pandemia do covid-19 trouxe outras formas de trabalho, o teletrabalho que isola mais o trabalhador, afastando-o da realidade do local de trabalho e do contacto com as estruturas sindicais e outros trabalhadores. Este isolamento é utilizado para incutir medo nos trabalhadores, porque vem aí o papão da crise, passam custo do trabalho para o trabalhador e ainda o convencem que é uma coisa boa.
Em suma, as reivindicações de Abril de 1974 mantêm-se em 2025 apesar de 50 anos passados.
Agora como antes a Luta Continua, viva o trabalho, viva aos trabalhadores e sua luta.
Viva a CGTP-IN