Intervenção de Nuno Matos Coordenador do SINTAF no XV Congresso da CGTP
Bom dia, em nome da Direcção do SINTAF - Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira, saudações ao congresso e a todos os presentes.
Sou trabalhador da banca e dirigente do SINTAF.
A banca em Portugal tem 11 milhões de lucro por dia. Mas estes milhões não são para melhorar a vida dos trabalhadores da banca, quando se fala em aumentos salariais, ou melhorias das condições de trabalho, vem de imediato a resposta das dificuldades de mercado que o setor atravessa e da crise que se avizinha. O exemplo é a actual proposta de actualização salarial, apresentada por os bancos, de uns vergonhosos 2%.
A banca é um setor que tem apostado nas novas tecnologias e na digitalização, mas esta digitalização serve para despedir trabalhadores (mais de 16 mil desde 2010), redução do número de balcões (-2 mil desde 2010), o que tem provocado uma deterioração da qualidade do serviço prestado pela banca ás populações, hoje ir ao banco é sinónimo de filas de espera, ou marcação para atendimento uns dias mais á frente, ou até meses.
A digitalização deveria de ser uma forma de redução da carga laboral bem como do número de horas a trabalhar, funciona exactamente ao contrário.
Com a digitalização a banca passou a cobrar mais taxas e aumentou-as. O CEO do Millennium reconheceu que essas taxas aguentaram a banca durante a pandemia, taxas que são cobradas por a utilização das APP ou do home banking, bem como em cada pagamento que é feito por cartão (visa ou MB), actualmente as taxas e comissões são o negócio da banca.
Estas taxas representam 7 dos 11 milhões por dia que a banca lucra, o restante é a diferença dos juros que cobram nos empréstimos e não pagam na remuneração de contas ou aplicações, e que também não pagam ao BCE quando vão pedir dinheiro. Só o valor das taxas cobre (e sobra) os custos de produção. Quanto ao valor dos juros cobrados em 2023 subiram 90% em relação a 2022, e os lucros aumentaram bastante em 2023. O crédito concedido manteve-se nos níveis de 2022.
Em Portugal também temos a mais baixa taxa de transformação da Europa, que em Portugal é de 79%, ou seja, para cada 100 euros depositados só 79 são emprestados. Quando se diz que a banca é o motor ou alavanca da economia Portuguesa, não será bem isso, até porque a grande maioria destes lucros gerados em Portugal vão para o Estrangeiro, visto que só a CGD e o Montepio são de Portugal os restantes são consórcios estrangeiros. Só com o controlo publico da Banca, e ao serviço do Povo e do País podemos realmente avançar, porque estes muitos milhões de lucro seriam postos no Orçamento de Estado, aliviando a carga fiscal, e poderia o Estado dar verdadeiras ajudas aos empresários Portugueses. Alguém sabe onde está o Banco de Fomento? O que faz?
A CGD detida a 100% por o estado Português deveria funcionar como reguladora do mercado, ajudar o Povo e as empresas Portuguesas, mas funciona exactamente como a restante banca, não entrando em concorrência, temos que nos lembrar que a banca em Portugal foi condenada (2022) a pagar uma pequena multa de 225 milhões de euros por cartelização, ou seja combinarem entre si as regras do jogo e falsearem as regras da concorrência.
Por outro lado, neste mar de lucros temos os trabalhadores a afogarem-se, vejamos:
- Em 2021 inflação de 1.3% aumentos de 0.5% para trabalhadores e 1.7% para as administrações.
- Em 2022 inflação de 8,1% aumentos de 1.1% para os trabalhadores e 20% para as administrações.
- Em 2023 inflação média de 5.3% aumentos de 4.5% para os trabalhadores, para as administrações só conseguimos saber depois do fecho de contas do ano, mas tudo indica….
Isto depois de quase uma década sem aumentos e sempre a perder poder de compra. Mas com aumento de horas de trabalho, não remuneradas.
O CEO do Millennium em 2022 recebeu um total (anual), de 1.782.342,00€ mais 88,2% que em 2021, mas aos trabalhadores em 2023 recusou dar mais que 3%, o aumento mais baixo de toda a banca.
Para tudo isto a banca conta a prestimosa ajuda de umas associações que se autointitulam de sindicatos, uns dizem-se independentes e outros ligados a UGT. Todos interessados em tratar da saúde aos bancários. O assédio, a cada vez maior precariedade do emprego na banca através do outsourcing, os baixos salários, o agora chamado burnout, nada interessa, só o valor para o SAMS (saúde) é que importa.
Com persistência, organização e luta o SINTAF continuará, enquanto sindicato de classe a combater a política dos banqueiros e a defender os trabalhadores.
A Luta Continua
Seixal, 24 de Fevereiro de 2024