Romper com o Assédio Moral e Psicológico nos Bancos
A recente campanha da CGTP-IN contra o assédio moral coincidiu com mais um caso de suicídio dum bancário.
Não se podendo extrapolar situações individuais complexas que merecem análise ponderada nas suas diferentes vertentes sociais e psíquicas, é um facto inegável que este suicídio de um trabalhador do BPI, no gabinete da chefia, como outro anterior de um trabalhador do Novo Banco ocorreram em situações de trabalho propícias a actos de desespero.
As políticas de desumanização do trabalho levadas a cabo nos bancos, com o agravamento da precariedade e a eliminação de direitos no trabalho e a criação de múltiplas formas de insegurança no emprego, geram insatisfações e fragilidades na vida pessoal e familiar dos trabalhadores.
A gestão dos bancos portugueses, dominados, com excepção da CGD e do Montepio, por capitalistas estrangeiros, utiliza os recursos humanos e financeiros dos bancos prioritariamente para obter o máximo lucro e não para apoiar a economia. Para isso, aprimora as técnicas da especulação financeira e da exploração dos trabalhadores.
Aproveitando as cedências dos sindicatos da UGT na concertação social e na negociação colectiva, os bancos destruíram os principais direitos que os bancários tinham conquistado e que lhes davam segurança e dignidade no trabalho. Citando um exemplo expresso no relatório dos resultados de exercício dos primeiros nove meses de 2016 do Banco BPI, só este banco poupou em apenas esses nove meses, por força das últimas alterações ao acordo colectivo de trabalho e da consequente da detioração das condições de trabalho, 43 milhões de euros.
Com tal gestão, os bancos eliminaram milhares de postos de trabalho nos últimos anos. Só durante os anos da troika foram destruídos mais de 8000 postos de trabalho. E a sanha destruidora continuou e, já em 2016, foram forçados a abandonar o sector cerca de 2000 trabalhadores dos cinco principais bancos a operar em Portugal (CGD, Novo Banco, BCP, BPI e Santander Totta).
Em todo o sector, continuam as políticas de destruição e medo. Os catalães do CaixaBank anunciaram, no âmbito da OPA com que tomaram o BPI, uma nova “limpeza” de 1000 trabalhadores. O Novo Banco prossegue o seu plano de despedimentos para ser oferecido mais “limpinho” ao fundo americano que o quer comprar a preço de saldo, para depois o poder utilizar com grandes lucros. A CGD apresentou um plano “salvador” para mandar para casa mais de 2000 trabalhadores. O Millennium BCP, o Totta, o Montepio e praticamente todos os bancos realizam semelhantes cenários de terror.
Não se pode estabelecer uma causalidade linear entre situações específicas nos locais de trabalho e os actos de desespero e de autodestruição dos trabalhadores. Muitas vezes, os próprios chefes são vítimas das engrenagens e das pressões exercidas pelos seus mandantes.
Mas os banqueiros e o capitalismo voraz são responsáveis pelas situações que atentam contra a integridade moral e psicológica dos trabalhadores e que geram os sentimentos de insegurança e de medo do futuro.
Denunciando e combatendo o assédio e a coacção psicológica nos locais de trabalho, o SINTAF reclama uma mais clara regulamentação da proibição de actos repressivos geradores de violências físicas e psicológicas no trabalho e da penalização e criminalização dos responsáveis por tais actos.
Mas o SINTAF luta também por um controle público dos bancos que torne possível que os mesmos cumpram o seu papel ao serviço da economia e em que o trabalho tenha valores e direitos e em que os postos de trabalho sejam defendidos como factor de riqueza.
O SINTAF luta por bancos com condições de trabalho dignas, estáveis e com futuro promissor e em que os trabalhadores se sintam, não como peças descartáveis, mas como parte integrante e respeitada.