Trabalhadores e Reformados do BPI Merecem Respeito
Cerca de dois meses depois do indigno aumento salarial de 0,5% “oferecido” aos trabalhadores do activo, os resultados do banco no primeiro trimestre de 2019, com um lucro consolidado de 49,2 milhões de euros num contexto de redução dos custos com pessoal (sem os factores positivos não recorrentes ocorridos no 1º trimestre do ano anterior, nomeadamente as referentes às imparidades e à venda da participação na Viacer), confirmam o agravamento da exploração dos trabalhadores.
Em 2018, o BancoBPI, de capital 100% espanhol, obteve 490 milhões de euros de lucros, à custa de uma enorme redução dos custos com o pessoal, dos sucessivos aumentos das já insuportáveis comissões e das duvidosas alienações de partes significativas do imobiliário e da estrutura da instituição, sem esquecer os insignificantes 0,07% de juros pagos aos depositantes (que constituem outra grande preocupação tendo em conta a especulação financeira feita com os depósitos e a injustiça directa para com os depositantes).
O aumento salarial agora “oferecido” de 0,5 % para os trabalhadores do activo, tal como o aumento de 0,75% negociado com os sindicatos da UGT em 2018, são verdadeira e constrangedoramente desrespeitosos para quem trabalhou e para quem trabalha porque não compensam minimamente as perdas resultantes da inflação, não recompensam os ganhos de produtividade (para os quais os trabalhadores tiveram papel decisivo e imprescindível) e não têm em conta os vultosos lucros obtidos pelo Banco. São aumentos de miséria com que se pretende formalizar uma real redução do poder de compra dos trabalhadores e dos reformados, deteriorando inexoravelmente as suas condições de vida e as das suas famílias.
Segundo dados do próprio BancoBPI, a inflação em Portugal foi superior a 10,8% de 2008 a 2016 (segundo a PORDATA, a inflação em Portugal, atingiu os 13,23% de 2008 a 2018). E os ganhos de produtividade no mesmo período, por força nomeadamente da redução de pessoal de mais de três mil trabalhadores no mesmo período, atingiram os valores elevados que foram publicados pela generalidade dos média nacionais, à custa, e sempre, da redução dos custos com pessoal. Como a tabela salarial esteve congelada de 2010 a 2016 e os aumentos salariais verificados depois disso foram irrisoriamente insignificantes, esta “oferta” dos banqueiros do BPI de 0,5% é, também por isso, cínica e desrespeitosa.
Os bancos estão obrigados ao cumprimento da legislação e dos normativos legais em vigor em Portugal. No caso dos bancários, os aumentos salariais têm reflexos nas pensões dos reformados, dado que o valor das pensões de reforma está indexado à tabela salarial negociada na contratação colectiva. O BancoBPI, como qualquer outra empresa, pode distribuir pelos trabalhadores, nos termos da legislação em vigor, como acabou de fazer com as variáveis, valores compensatórios segundo a sua óptica de meritocracia e de poder. Mas, não é moral e socialmente legítimo fazê-lo, humilhando outros, ou seja, sem garantir a todos um rendimento justo e mínimo dos salários e pensões. O BancoBPI, com esta atitude que nenhum acto de gestão com responsabilidade social pode justificar, evidenciou uma prática de discriminação e de abandono dos trabalhadores reformados, que mantém uma forte ligação afectiva ao banco e cuja pensão de reforma e qualidade de vida dependem, nos termos acordados como contrapartida do trabalho por si efectuado, da actualização da tabela salarial.
Na dinâmica da concentração e acumulação capitalista, os banqueiros refinam a exploração do trabalho com reconversões “criativas” de funções mas, sempre, em detrimento das condições de vida de quem trabalha. No BancoBPI criam-se “gestores de negócios” e “consultores financeiros”, nalguns casos com carência de formação e sem pagamento dos custos de deslocação, noutros casos estabelecendo para cada um deles objectivos individuais que geram conflitos e competições doentias entre trabalhadores e que chegam a pôr em causa o normal funcionamento do próprio balcão. Duma forma geral, as carreiras profissionais no banco e as respectivas remunerações não espelham o grau de exigência das funções.
O aumento de 0,5% agora atribuído aos trabalhadores do ativo, que se traduz num óbolo de meia dúzia de euros mensais per capita, não resolve nenhum dos problemas com que se confrontam os trabalhadores e visa, apenas, facilitar o agravamento das condições de trabalho e o aumento da carga e do horário de trabalho. Além disso, é uma afronta aos reformados que deram a parte mais significativa da sua vida a uma entidade que, desta forma, vilmente os despreza. Estando o BancoBPI a apropriar-se indevidamente de parte das reformas da Segurança Social recebidas por trabalhadores, apesar de o Supremo Tribunal já o ter obrigado a corrigir esse comportamento, ainda insiste mais nesta afronta aos reformados.
O SinTAF opõe-se ao processo de empobrecimento dos trabalhadores e dos reformados que os bancos têm implementado ao longo dos últimos anos com a colaboração dos sindicatos da UGT e dos Quadros. O SinTAF continua por isso a lutar por um aumento salarial de 5%, percentagem que manterá os custos com o pessoal abaixo dos anos anteriores.
Para que este justo objectivo seja possível, exequível e com a brevidade que se impõe, torna-se necessária uma adesão massiva dos trabalhadores ao SinTAF – Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira – CGTP.
Pela dignidade! Não ao empobrecimento!
ADERE AO SinTAF!